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Cinema

Mais uma obra monumental de Marco Bellocchio, quando um filme é mais do que uma boa história

Mais uma obra monumental de Marco Bellocchio, quando um filme é mais do que uma boa história
Imagem/Divulgação
Publicado em 24/07/2024 às 17:06

“O Sequestro do Papa” foca um caso bizarro na Igreja em 1858 como representação simbólica das rupturas da política italiana. Resumindo assim parece um filme “cabeça”, mas é belíssimo e envolvente

Nos últimos tempos, um elogio se tornou cada vez mais comum em críticas de filmes: tal cineasta sabe contar bem uma história. OK, é um elogio, mas faz muita falta aquele tipo de diretor que não apenas conta histórias, mas faz bom cinema. No entretenimento moderno, tudo é extremamente calculado para cumprir padrões pré-estabelecidos. Os filmes, mesmo bons, ficam um tanto parecidos. Onde estão os novos artistas atrás das câmeras? Bom, alguns antigos mestres insistem em mostrar como se faz a coisa. Ainda está em algumas salas o ótimo “A Ordem do Tempo”, da italiana Liliana Cavani, que acaba de completar 90 anos. Um grande filme, já indicado na TORPEDO. Agora é a vez dos cinemas exibirem “O Sequestro do Papa”, de outro gigante italiano, Marco Bellocchio, 85 anos. É um filme em que ele mescla dois temos caros em sua carreira: os mecanismos da Igreja Católica e os processos de formação e ruptura na história da Itália.

Já que é praticamente impossível achar no streaming as principais obras do diretor, como “De Punhos Fechados”, “O Diabo no Corpo” ou “Bom Dia, Noite”, é bom aproveitar esse longa no qual cada cena tem um ritmo próprio, com mudanças sensoriais numa primorosa utilização da música e da luz, em sequências cativantes. É cinema que se diz, não? Enfim, como nos títulos mais recentes de sua vasta filmografia, este aqui se dedica a expor entranhas da Igreja Católica. O mote é bizarro, apesar de ser um fato real. Em 1858, um garoto judeu, Edgardo, de seis anos, é sequestrado da casa de sua família, em Bolonha, sob ordens do papa Pio IX. A justificativa é um suposto batismo furtivo que teria sido realizado logo após seu nascimento, o que tornaria o menino um cristão. Levado para Roma, vai passar os 20 anos seguintes crescendo ali, com suas crenças divididas entre duas doutrinas.

O pano de fundo é o processo da unificação do poder na Itália da época, e o episódio do sequestro ganha notoriedade internacional. A narrativa é fascinante. O talento de Bellocchio é que, mesmo retratando o sequestro brutal e vergonhoso, não procura tratar como pura vilania a ação da Igreja em relação a Edgardo. Os religiosos que cuidam dele demonstram muita bondade e um amor evidente pelo menino. Aos poucos, o público acompanha como Edgardo vai sendo absorvido por um novo mundo. Simbologia da Itália entrando numa nova era política? Talvez. Bellocchio tenta mostrar a inevitabilidade de forças que conduzem a vida das pessoas, por mais perversas que possam ser. O trailer pode ser visto aqui.

Fonte: Thales de Menezes

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