Todos nós sabemos que a construção de uma rede de contatos eficaz é fundamental para o desenvolvimento profissional e pessoal. A sociedade em rede (Castells, 2005), transformou o modo como nos relacionamos, promovendo um ambiente cada vez mais interconectado. Para que uma rede seja verdadeiramente eficaz e produtiva, é necessário considerar elementos como credibilidade, competência, clareza e conectividade. Elementos que servem como pilares para a criação de um networking eficaz. Para ampliar essa discussão, é necessário considerar como esses elementos se manifestam no contexto atual de hiperconectividade, dinâmicas digitais e transformações culturais.

1. Credibilidade: a confiança como pilar das relações

A credibilidade é o alicerce de qualquer rede pessoal. No mundo digital e globalizado, a confiança desempenha um papel ainda mais vital, uma vez que interagimos com pessoas de diferentes contextos e culturas. Quando conhecemos alguém pela primeira vez, algumas perguntas são naturais: “Posso confiar nessa pessoa?” ou “Quais são suas intenções?”. Essas questões são fundamentais para definir se estamos dispostos a abrir nossa rede e estabelecer uma conexão significativa.
Com o crescimento das plataformas online e das economias colaborativas, como Uber e Airbnb, a credibilidade passou a ser mediada por sistemas de reputação digital (Botsman, 2017). A confiança deixou de ser estabelecida exclusivamente em interações face a face, e agora inclui métricas digitais que influenciam nossa percepção sobre a confiabilidade de uma pessoa ou serviço.

No networking, essa ideia é ampliada. A confiança é o “capital social” essencial para o funcionamento das sociedades (Fukuyama, 1996). No mundo dos negócios e das redes pessoais, ela é cultivada por meio da consistência de comportamentos e pela transparência nas interações. Para criar uma rede poderosa, a construção de uma reputação confiável, seja em plataformas digitais ou no mundo físico, é um aspecto indispensável.

2. Competência: o valor das habilidades no século XXI

A competência é a capacidade de demonstrar habilidades e expertise em uma área específica. No entanto, no século XXI, a definição de competência vai além das habilidades técnicas. Com as rápidas mudanças tecnológicas e a complexidade dos problemas globais, a adaptabilidade e a capacidade de aprender continuamente tornaram-se atributos críticos de competência.

A capacidade de desenvolver habilidades amplas e diversas é fundamental em um mundo de incertezas e complexidade (Epstein, 2019). Profissionais que conseguem navegar em diferentes disciplinas, e que combinam conhecimentos variados, tendem a ser mais inovadores e adaptáveis. Desta forma, a competência, no mundo moderno, requer uma abordagem multidisciplinar, que permita flexibilidade e criatividade.

Reid Hoffman (2012), co-fundador do LinkedIn, argumenta que todos os profissionais devem gerenciar suas carreiras como startups, buscando continuamente melhorar suas competências, testar novas ideias e adaptar-se ao mercado. A competência, portanto, é vista não apenas como uma habilidade estática, mas como um processo dinâmico de crescimento e reinvenção.

3. Clareza: comunicação em um mundo complexo

A clareza, tanto nas intenções quanto na comunicação, é outro elemento essencial para o networking eficaz. Ela ajuda a evitar mal-entendidos e estabelece expectativas realistas. No entanto, no contexto contemporâneo, onde a comunicação digital é predominante e as interações são frequentemente fragmentadas, essa “qualidade” torna-se ainda mais desafiadora.

A comunicação digital muitas vezes carece de profundidade e clareza (Turkle, 2016). A velocidade das mensagens instantâneas, e-mails e redes sociais pode comprometer a qualidade da comunicação, levando a mal-entendidos e a interações superficiais. Para construir uma rede pessoal forte, é necessário praticar uma comunicação clara e honesta, priorizando a empatia e o entendimento mútuo.
A clareza é uma forma de coragem (Brown, 2018).

Ser objetivo nas suas intenções e expectativas, especialmente em ambientes profissionais, exige vulnerabilidade e abertura. A comunicação clara promove a confiança e fortalece os relacionamentos, tanto pessoais quanto profissionais.

4. Conectividade: o poder das redes na era digital

A conectividade refere-se à capacidade de criar e manter relacionamentos significativos dentro da sua rede. No mundo digital, essa conectividade assume novas formas, com plataformas como LinkedIn, Twitter e outras redes sociais profissionais facilitando a criação de conexões globais.

A internet transformou a forma como nos organizamos e conectamos. O poder das redes digitais permite que indivíduos de diferentes lugares e contextos se conectem e colaborem de forma mais rápida e eficiente. No entanto, é preciso ficar atento para o fato de que a conectividade superficial, sem interação significativa, pode ser limitada em termos de valor prático (Shirky, 2008).

A conexão por trás das redes mostra que algumas são mais valiosas que outras (Barabási, 2002). Barabási introduz o conceito de “nós” e “hubs”, explicando que indivíduos altamente conectados (os hubs) têm maior influência dentro de uma rede. Para construir uma rede pessoal eficaz, é necessário identificar e se conectar com esses hubs, criando laços que sejam mutuamente benéficos e sustentáveis.

Mas a construção de uma rede pessoal poderosa no século XXI vai além dos princípios tradicionais de credibilidade, competência, clareza e conectividade. Em um mundo digital e interconectado, esses elementos assumem novos significados e exigem uma abordagem adaptada às dinâmicas contemporâneas. A confiança e a reputação digital, a habilidade de aprender continuamente, a comunicação clara em ambientes fragmentados e a capacidade de criar conexões significativas em uma sociedade em rede são apenas alguns dos pilares para o sucesso no networking moderno. Dessa forma, construir uma rede pessoal eficaz exige não apenas habilidades interpessoais tradicionais, mas também uma compreensão das mudanças tecnológicas, sociais e culturais que moldam o mundo em que estamos vivendo.

Artigo escrito por Luciano Teixeira – jornalista. Doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo.

Referências:
BOTSMAN, Rachel. Who can you trust?: how technology brought us together–and why it could drive us apart. Penguin UK, 2017.

BROWN, Brené. Dare to lead: Brave work. Tough conversations. Whole hearts. Random house, 2018.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e terra, 2005.

EPSTEIN, David. Range: Why generalists triumph in a specialized world. Penguin, 2019.

FUKUYAMA, Francis. Trust: The social virtues and the creation of prosperity. Simon and Schuster, 1996.

LASZLO, Barabasi Albert. Linked: the new science of networks. Perseus, 2002.

HOFFMAN, Reid; CASNOCHA, Ben. The Startup of You (Revised and Updated): Adapt, Take Risks, Grow Your Network, and Transform Your Career. Crown Currency, 2012.

SHIRKY, Clay. Here comes everybody: The power of organizing without organizations. Alien Lane, 2008.

TURKLE, Sherry. Reclaiming conversation: The power of talk in a digital age. Penguin, 2016.

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