Livro
Albert Camus, do existencialismo ao “romantismo”
Quando o franco-argelino Albert Camus (1913-1960) precisava preencher o campo “profissão” na ficha de entrada em algum hotel, ele podia escolher entre filósofo, escritor, romancista, dramaturgo, jornalista e ensaísta. Ou simplesmente escrever ali que era o intelectual que desenvolveu um humanismo baseado na confrontação do absurdo da condição humana. Não é pouco, e seu romance “O Estrangeiro” precisa estar em qualquer lista honesta dos melhores livros já escritos pela humanidade. Mas esse inesgotável pensador também teve de tempo de escrever cartas de amor para Maria Casarès, grande atriz do teatro e do cinema francês no século 20. Nessa relação que foi iniciada durante sua atuação na Resistência Francesa na Segunda Guerra Mundial e que os dois às vezes se preocupavam em esconder, Camus exibe o mesmo surpreendente talento que se espalha por todos os gêneros nos quais ele se aventurou. Chega agora ao Brasil, em lançamento da editora Record, “Escreva Muito e Sem Medo: Uma História de Amor em Cartas (1944-1959)”, que traz simplesmente mais de 800 cartas. O livro saiu pela primeira vez na França em 2017, organizado por Catherine Camus, filha do escritor com Francine Faure. São 865 cartas, cartões-postais e até telegramas, que resultam um volume de mais de 1.200 páginas. A última carta é de dezembro de 1959, data já bem próxima da morte de Camus em um acidente de carro, em 4 de janeiro do ano seguinte. Até mesmo quem é reticente diante desse tipo de produto literário, que às vezes tem pouco a oferecer de relevante, pode arriscar uma lida nesse catatau. Ali, no calor da paixão, Camus expõe muito dos conceitos do existencialismo que apresentou em suas outras obras para milhões de seguidores.
Fonte: Thales de Menezes
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