Memórias de situações perigosas são o recheio do livro. Momentos tensos, de riscos físicos. Os cenários se espalham pelos cinco continentes: montanhas, florestas, geleiras, desertos… Um livro autobiográfico com muita adrenalina? Sim, exatamente. Mas o que surpreende é este relato não ser de um praticante de esportes radicais, de um alpinista ou algo parecido. “Cada Um por Si e Deus Contra Todos”, lançado na Europa no ano passado e que chega agora ao Brasil pela Todavia, traz a autobiografia do cineasta alemão Werner Herzog, 81, um dos mais premiados diretores do século 20 e autor de obras consagradas como “Aguirre, a Cólera dos Deuses”, “O Enigma de Kasper Hauser”, “Nosferatu” e “Fitzcarraldo”. Este último, que assim como “Aguirre” foi rodado na Floresta Amazônica, expôs elenco e equipe a situação bem arriscadas. Entre as verdadeiras façanhas do diretor na produção está arrastar um navio inteiro morro acima, no meio da mata tropical. O livro cobre toda a vida de Herzog, da infância muito pobre em cidadezinhas da Baviera à consagração nos festivais de cinema, chegando até sua opção artística dos últimos 20 anos, que é realizar um filme de baixo orçamento atrás do outro, até seis em um mesmo ano, às vezes curtas e/ou documentários. As páginas trazem muita reflexão sobre a arte de filmar, claro, mas não é possível esperar considerações sobre obras clássicas do cinema ou bastidores curiosos compartilhados com seus atores. Afinal, Herzog é um cineasta que chegou a dirigir um filme em que o elenco era hipnotizado antes de rodar cada cena, chamado “Coração de Cristal” (1976). Nada nele é convencional, o que só torna seu relato ainda mais atraente. Um livro para quem gosta de cinema levado além de qualquer limite.

Fonte: Thales de Menezes

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