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Quem é Raquel Kochhann, a porta-bandeira do Brasil nas Olimpíadas 2024

Quem é Raquel Kochhann, a porta-bandeira do Brasil nas Olimpíadas 2024
Publicado em 23/07/2024 às 10:18

Carregar a bandeira do Brasil em uma cerimônia de abertura das Olimpíadas é um feito para um grupo exclusivo – apenas 22 o fizeram na história dos Jogos.

Os escolhidos costumeiramente atletas vitoriosos em suas áreas profissionais, mas o ato é ainda mais simbólico quando atinge alguém tão vencedor quanto pelo que faz fora dos campos, quadras, piscinas e pistas.

É para este grupo que entra Raquel Kochhann. Escolhida ao lado de Isaquias Queiroz para portar a bandeira verde e amarela na cerimônia da próxima sexta-feira (26), a partir das 14h30 (de Brasília), a jogadora de rugby 7 precisou superar uma notícia terrível, a descoberta de um câncer, para estar em Paris. Superou, voltou a jogar em tempo recorde e ganhou a recompensa mais do que merecida.

A descoberta

“Tudo começou um pouco antes das Olimpíadas de Tóquio, quando apareceu um caroço no meu peito, tipo no auto-exame. Aí, a nossa médica me examinou e falou: ‘Olha, ele está mexendo tranquilo, então, a princípio, não precisa se preocupar. Faça o exame quando chegar ao Brasil'”, contou Raquel, em entrevista exclusiva à ESPN.

“Voltei do Japão, fiz biópsia e tudo benigno. Vida que segue. Um ano depois, esse caroço quase dobrou de tamanho. Um mês antes da última etapa do Circuito Mundial na França, o mastologista disse para a gente retirar esse caroço quando eu tivesse um tempo para ficar parada. Como estava lesionada do joelho, achei uma boa hora”.

“Quando esse caroço voltou da biópsia, apresentou células cancerígenas. Aí, tive que começar uma bateria de exames para ver se esse câncer já tinha ido para algum outro lugar e que tratamento deveria ser feito. A gente descobriu outro foco que seria um foco secundário do câncer no osso do peito. Então, fiz todo o tratamento do câncer com radioterapia, junto com a recuperação do joelho”, disse a capitã da seleção feminina de rugby, que faz sua terceira participação consecutiva nos Jogos.

Foi nesse momento em que Raquel, que nunca tem medo das adversárias, ficou assustada.

“O médico me explicou a gravidade de um câncer no osso, isso me assustou um pouco. Fiquei preocupada porque nenhum médico queria assumir o risco de me liberar para um esporte de contato”, dividiu a jogadora, que, então, decidiu mudar a abordagem e perguntar o que seria preciso para conseguir a autorização e voltar ao esporte.

“A gente montou uma proteção com material flexível, permitido no rúgbi, mas que impedisse o contato direto do impacto no cérebro. Deu muito certo, eu me adaptei e voltei a treinar”.

Durante todo esse processo, Raquel, mesmo não jogando, nunca deixou de fazer parte das Yaras, como é chamada a seleção feminina.

“O nosso preparador físico foi estudar sobre o tema para tentar entender o que ele poderia e o quanto poderia colocar de carga, volume e intensidade. Podendo treinar, eu me sentia viva, alegre e estava num ambiente que me fazia bem. Assim, foi mais fácil de passar por todo o processo”.

A história de superação virou motivação para outras pessoas também. Ativa nas redes sociais, Raquel dividiu com seus seguidores o dia a dia da doença, com seus altos e baixos, suas vitórias e derrotas.

“Senti a necessidade de compartilhar com as pessoas que também passam pelo processo de câncer, que tudo tem o seu lado ruim e bom. Recebi muitas mensagens de muitas pessoas que também estavam passando pelo processo. Elas falavam que meus stories estavam ajudando a encarar de uma maneira melhor o tratamento”.

A recompensa veio no início de 2024, quando Raquel voltou a atuar pela seleção, no Circuito Mundial na Austrália. A emoção de competir novamente impactou muito.

“É bem difícil descrever com palavras, mas a gente fez toda a parte de preparação e um processo. Eu estava tão feliz de estar ali de novo e era uma mistura de alegria com ansiedade. Deixei bem claro para o meu treinador, que eu já tenho mais de dez anos de seleção, mas não quero que me leve para nenhum torneio pela minha história ou por dó ou por ter passado por tratamento. Quero conquistar minha vaga”.

Conquistou, Raquel. Com dedicação, com coragem, com muita inspiração. Conquistou também a vaga nas Olimpíadas e o direito de representar o Brasil na cerimônia de abertura. Feito grandioso, mas absolutamente merecido.

“Essa sensação de levar a bandeira para o mundo inteiro é algo que não consigo explicar em palavras. Trabalhamos muito no Brasil para que o rugby cresça e ganhe seu espaço. Sabemos que a realidade do nosso esporte não é ter uma medalha de ouro por enquanto, apesar de termos esse sonho. Mas sempre vi que quem carrega essa bandeira tem uma história incrível e representa uma grande conquista”, comemorou a brasileira.

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