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Lançamentos Musicais

Músico Makely Ka lança 3º álbum fechando a trilogia dos Sertões

Músico Makely Ka lança 3º álbum fechando a trilogia dos Sertões
Imagem/Reprodução
Publicado em 10/06/2024 às 15:43

Disco Triste Entrópico, que sucede os álbuns Cavalo Motor e Rio Aberto traz reflexões sobre a sociedade e a nossa identidade brasileira

Triste Entrópico é o novo álbum do músico e instrumentista piauiense radicado em Minas Makely Ka, que está sendo lançado pela gravadora e produtora Kuarup. Neste trabalho em formato digital e físico o artista pretende discutir não só a formação da identidade brasileira, mas o rumo que seguiremos daqui por diante, diante de disputas políticas e ideológicas acirradas que nos dividem e de uma crise climática que nos atinge de forma cada vez mais inexorável. Num momento em que o Brasil se encontra numa encruzilhada, o compositor sentiu a necessidade de retomar uma discussão que já foi mais presente na vida do país em outros momentos e que hoje, talvez, tenha se tornado um tanto anacrônica. É um trabalho que olha o passado para seguir adiante. Mais de cem anos passados da Semana de 22, quando ideias plantadas pelo modernismo foram superadas, em que pautas muito mais urgentes se impõem, enquanto tantas outras caducaram, chegamos talvez num ponto sem retorno.

Nos resta a tarefa de lidar com nossos problemas estruturais históricos, com a herança da escravidão que nos marca cotidianamente e tudo o que ela implica. É um trabalho que fala das nossas misérias e tristezas, mas também que celebra a vida e os encontros, que festeja as pequenas felicidades possíveis, que não se furta à celebração da vida. Encarar a ferida aberta de uma abolição da escravidão no final do Império sem dar condições e direitos iguais aos ex-escravos e o massacre de Canudos no início da República, dois fatos históricos que marcaram o rumo dos acontecimentos e que têm reverberações até os dias de hoje e além. Por isso o projeto aborda esse personagem obscuro e controverso chamado Chachá e a herança da cultura daomeano no Brasil. Os Sertões por sua vez é uma canção inspirada no clássico livro de Euclides, retratando seus personagens, sua geografia e os acontecimentos desse triste episódio. “Eu tento dar conta de uma das obras incontornáveis da literatura brasileira, que é esse monolito chamado Os Sertões de Euclides da Cunha, declara Makely Ka”.

O disco Triste Entrópico, que fecha a trilogia dos sertões, traz esse olhar para o interior, para dentro do país, para a grande floresta, a terra árida e selvagem, mas também o Sabarabuçu, a terra prometida, o Eldorado. No Cavalo Motor, o primeiro disco da trilogia, o diálogo era estabelecido com Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. Na travessia do sertão mineiro até a divisa com a Bahia, no carrasco, zona de transição entre o cerrado e a caatinga. No álbum seguinte, Rio Aberto, o segundo da trilogia a referência e homenagem é feita aos afluentes do São Francisco, ao Rio Doce e ao Vaza-Barris, no sertão de Canudos. Foi, portanto, um percurso pelos rios, descendo o São Francisco através de seus afluentes, de Minas Gerais até a Bahia. Makely Ka tenta reestabelecer esse trajeto no sentido inverso ao que fez anteriormente, seguindo o sentido da ocupação territorial dessa região, da caatinga no sertão nordestino de volta para o cerrado mineiro. Estabelece nesse percurso várias relações entre essas duas obras monumentais da literatura escrita em língua portuguesa. A começar pela geologia, que une esses dois territórios geoliterários pelo magma da rocha de formação mais antiga do planeta, o cráton. Esses dois livros são provavelmente os mais importantes, os mais imprescindíveis, os mais enviesadamente didáticos para compreender o Brasil num nível profundo, para ler os acontecimentos do final do século 19 para cá.

Continuamos, todavia, como vaticinou Glauber Rocha, uma grande fazenda quatrocentona, produzindo commodities, explorando nossos recursos naturais como se não houvesse amanhã, apostando num modelo de crescimento e consumo capitalista insustentável, mesmo na perspectiva dos governos progressistas de esquerda.

Esse projeto, com todas as implicações possíveis que fazem da música um mecanismo de intervenção no real, e ainda do ponto de vista particular, considerando o alcance limitado do trabalho que um artista independente possui, pretende oferecer, ainda assim, um vislumbre com todas as nossas contradições históricas do país que queremos deixar para as próximas gerações. Com este álbum Makely Ka portanto fecha a Trilogia dos Sertões, fazendo o percurso inverso dos vaqueiros que desceram pelos Currais da Bahia e ocuparam o cerrado mineiro nos séculos 17 e 18. Subindo o mapa geográfico e literário do Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa, atravessando os rios da região, seguindo o São Francisco até chegar em Canudos, banhado pelo Vaza Barris, nos sertões baianos de Euclides da Cunha.

Faixa a faixa

Vento Vivo é uma canção que surgiu durante uma tempestade. O autor brinca com o imaginário sobre os ventos e cita mitos relacionados ao tema de diversas culturas. Tem uma citação implícita a Vento Bravo de Edu Lobo e Paulo César Pinheiro, um arranjo de sopros que remete aos filmes do James Bond, um instrumental que dialoga com o afrobeat de Fela Kuti, as intervenções do Chico Neves que sugerem um clima de ficção científica dos anos 70. Dedicada a Edu Lobo e Paulo César Pinheiro.

Eu Acho é Pouco é um coco de embolada e trava-língua com uma harmonia torta, uma métrica irregular e um ritmo quebrado falando de assuntos inusitados, como o trauma do 7 a 1, o agronegócio e nossa herança colonial, as misturas de nossa diversidade étnica, a necessidade de quebrar velhos pactos e estabelecer novos acordos. Traz um arranjo de sopros inspirado no Pife Muderno de Carlos Malta e as intervenções sonoras de Chico Neves. Dedicada a Itamar Assumpção e Naná Vasconcelos.

Suburbiando é uma canção inspirada no universo de Guinga e Aldir Blanc. O personagem perambula pelo subúrbio de dez capitais brasileiras, sempre em subempregos, invariavelmente em caráter provisório e de forma precária, equilibrando uma vida errática de amores, desilusões e inconstância religiosa. A canção dialoga com Bye, Bye Brasil de Chico Buarque e Roberto Menescal para o filme homônimo de Cacá Diegues e também com A Violeira, de Tom Jobim e Chico Buarque para o filme Pra viver um grande amor deMiguel Faria Junior. Dedicada a Chico Buarque.

Regresso ao Agreste é uma canção-manifesto contra o agronegócio e sua sanha que avança sobre os biomas. É também um grito de alerta contra a tentativa de transformar a natureza em commodities e exaltar o modelo desenvolvimentista de crescimento constante e infinito. Destaque para o acordeom de Toninho Ferragutti que costura a melodia com contrapontos e comentários inspiradíssimos. Dedicada a Guinga e Aldir Blanc.

Chachá é uma canção inspirada no controverso personagem histórico Francisco Félix de Souza, que se transformou no maior traficante de escravos da costa ocidental africana no século XVIII, mas também em protetor dos retornados. Fala das relações do Brasil com o Daomé, do fluxo e refluxo transatlântico ao longo dos séculos. O arranjo de sopros, escrito pelo saudoso Maurício Ribeiro, é inspirado nas Coisas de Moacir Santos. Dedicada a Milton Nascimento.

Ex-extintos é uma canção sobre as etnias que habitavam a região de Minas Gerais e seus arredores, mas foram extintas ou silenciadas desde as primeiras Bandeiras até anos recentes. Destaque para o arranjo de garrafas afinadas com água e as paisagens sonoras gravadas pelo artista no Parque Indígena do Xingu durante um Kuarup. Dedicada a Marlui Miranda e UAKTI.

Feira de Araçuaí é uma canção em homenagem à grande feira da cidade do médio Jequitinhonha, que remete às grandes feiras populares do norte e nordeste brasileiros. Com um refrão chiclete, uma guitarra malandra e um violão que tem alguma coisa de Back in Bahia do Gil ela certamente é uma das canções mais pop do álbum. Dedicada a Gilberto Gil e Sivuca.

Triste Entropia é uma canção conceitual que desvela o tema do disco. A letra é uma reescrita do soneto do poeta português radicado em Salvador Gregório de Mattos Guerra musicado por Caetano Veloso e gravado em seu álbum Transa, de 1972,como o nome de Triste Bahia. A letra é uma espécie de reescrita do poema original, mantendo as mesmas rimas e a mesma métrica, mas atualizando e ampliando a temática. A música, por sua vez, se equilibra no fio da navalha da melodia original, numa espécie de citação às avessas. O procedimento é inspirado em outro compositor, o paulista José Miguel Wisnik e suas recriações absolutamente autorais, originas e contemporâneas da obra de Ernesto Nazareth para o Grupo Corpo. Dedicada a Tom Zé e Zé Miguel Wisnik.

Derrubada do Marco Marciano é uma resposta poética ao Marco Marciano, canção de Lenine e Braulio Tavares, o que remete a uma tradição centenária de construção e derrubada de marcos construídos com a força da palavra. Nesse caso o arranjo foi construído sob uma melodia fixa baseada em aboios e toques de viola. Dedicada a Pinto do Monteiro e Louro do Pajeú.

Ajayô é uma canção em forma de saudação aos orixás e entidades que povoam as tradições de matriz africana no Brasil, misturando termos em yorubá, quimbundo e quicongo. A ideia foi construir um sintagma poético, um oriki em celebração às divindades que povoaram as matas e os quintais brasileiros com a chegada dos africanos nessas terras. O arranjo de Maurício Ribeiro foi inspirado em Letiéres Leite. Dediacada a João Bosco e Clementina de Jesus.

Desanuvio é uma canção soturna, de coloração sombria, cantada pela voz luminosa de Ná Ozzetti. O personagem amargurado e inconsolável desafia o ouvinte equilibrando-se sob o fio da navalha de uma melodia tortuosa, que revela toda a beleza de sua quase epifania. Dedicada a Gal Costa.

Toma Tento é uma canção-xiste e surgiu a partir de uma brincadeira do compositor com seus filhos. Tornou-se um improviso experimental que alterna compassos quebrados, frases de efeito, citações de outras canções pouco conhecidas de outros compositores, com destaque para os improvisos de violão de Tabajara Belo e de vibrafone de Antônio Loureiro. Dedicada a Caetano Veloso e Torquato Neto.

Os Sertões é uma canção inspirada no livro homônimo de Euclides da Cunha. Acompanhado apenas de seu violão e um quinteto de cordas, o artista estabelece diversas conexões históricas, musicais e literárias nessa releitura intersemiótica e muito pessoal de um dos maiores clássicos da cultura brasileira. Dedicada a José Celso Martinês Correa e Elomar Figueira Melo.

Ficha Técnica

Produção Musical: Makely Ka

Co-produzido por André Cabelo

As faixas “Vento Vivo” e “Eu Acho é Pouco” foram pós-produzidas por Chico Neves

Arte da capa: Manassés Muniz [reprodução da série “Desertos Industriais”, inspirado numa usina de cana desativada em São Miguel dos Campos nas Alagoas. Foi feito com bistre, extrato de nogueira e canetas gráficas sobre papel 240g 100% algodão]

Designer: Horizontes Cultural

Finalização: Kuarup

Produção Executiva: Cavalo Motor Produtora

Selo e Distribuição: Kuarup

Gravado, mixado e masterizado no Estúdio Engenho por André Cabelo, exceto as faixas 1 e 12, mixadas e pós-produzidas no Estúdio 304 por Chico Neves.

Makely: violão e voz

Ná Ozzetti: voz

Tabajara Belo: violão

Toninho Ferragutti: acordeon

Antonio Loureiro: vibrafone

Gustavo Souza: violão

Paulim Sartori: contrabaixo

Marcelo Chiaretti: garrafas afinadas com água, flautas em dó e sol e arranjo de sopros

Yuri Vellasco: moringas, pandeiro, congas, zabumba, triângulo, cowbell, caxixis, pratos, tabla, congas, clave, reco de cerâmica, sinos e efeitos

Rafael Azevedo: viola de 10

Vinícius Mendes: clarone

Felipe José: violoncelos

Camila Rocha: contrabaixo acústico

Mário Séve: sax soprano, sax alto e sax tenor

Rafael Pereira Lima: sax barítono

Everson Moraes: trombone e

trombone baixo

Aquiles Moraes: trompete

Luísa Penido: vocais

Maurício Ribeiro: arranjo de metais

Avelar Jr.: arranjo para duo de violoncelos

Chico Neves: programação e efeitos

Participações Especiais: Ná Ozzetti, Toninho Ferragutti, Tabajara Belo e Antônio Loureiro.

Contatos

(31) 98863-9531 [email protected]

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Sobre Makely Ka

Makely Ka é hoje um dos mais requisitados compositores de sua geração e pode ser ouvido na voz de Lô Borges, Samuel Rosa, Titane, Ná Ozzetti e José Miguel Wisnik entre dezenas de outros intérpretes. Lançou o disco coletivo A Outra Cidade em 2003, e Danaide em 2006 com a cantora Maísa Moura. O primeiro trabalho solo veio em 2008 com Autófago, considerado pela crítica um dos melhores discos de “roque brasileiro”. Em 2014 compôs, ao lado de Rafael Martini, a peça sinfônica em cinco movimentos Suíte Onírica, gravada com a Orquestra Sinfônica da Venezuela, o Coral do Teatro Teresa Carreño e sexteto sob regência do maestro português Osvaldo Ferreira. Em 2015, lançou o álbum Cavalo Motor, resultado de uma longa viagem realizada pela região noroeste de Minas Gerais, na divisa entre Bahia e Goiás. O disco tem participação de Arto Lindsay, Susana Salles, Décio Ramos (grupo UAKTI), O Grivo entre outros e foi transformado também em DVD. O trabalho foi considerado um dos melhores lançamentos do ano e recebeu vários prêmios, entre eles o Grão da Música de melhor álbum de Música Brasileira. Em 2018 recebeu o prêmio Simparc de Artes Cênicas de melhor trilha sonora original para o espetáculo de dança Espelho da Lua, da Cia Mário Nascimento. Em 2021 lançou o álbum instrumental Rio Aberto, em que toca viola de 10 cordas, viola dinâmica e craviola. O álbum foi lançado pela gravadora Kuarup e contêm doze faixas autorais que levam o nome de cursos d’água de Minas e Bahia mais uma releitura chamada Encontro das Águas, de Tavinho Moura. Letrista inspirado e versátil, acumula parcerias com diversos compositores em todo o país, como Guinga, Chico César e Marku Ribas, com destaque para o álbum Dínamo, inteiramente composto com Lô Borges e lançado em 2020. Em 2022 o artista compôs e produziu a canção O Relógio do Juízo Final em parceria com Carlos Rennó e Rodrigo Quintela, inspirada no livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo do pensador indígena Ailton Krenak. A música ganhou um videoclipe assinado pelo cineasta Marcos Prado e foi utilizada na campanha realizada pela soberania de povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas com participação de diversos artistas como Margareth Menezes, Luedji Luna, Pedro Luís, Tetê Espíndola, Russo Passapusso, Roberto Frejat, Arnaldo Antunes, Nando Reis, Roberta Sá, Zélia Duncan, e Toninho Horta, entre outros. Assinou também em 2022 a trilha sonora do espetáculo Rios Voadores, para o Corpo de Dança do Amazonas, com coreografia de Rosa Antuña que foi indicado pelo Prêmio APCA como melhor trilha sonora. Como intérprete de suas próprias canções destaca-se pela sua voz grave e rascante e pelo violão vigoroso tocado de forma muito peculiar. O humor, a ironia e o sarcasmo estão sempre presentes nas apresentações ao vivo, que podem ser em formato solo ou com banda. Já tocou em alguns dos principais palcos do Brasil e excursionou por Portugal, Espanha, Dinamarca, Lituânia, Turquia, Grécia e México. Grande interlocutor da cena musical em Minas, Makely organizou mostras e festivais, participou de curadorias, produziu discos de outros artistas, fez direção artística de shows, criou trilhas para cinema, dança e teatro,  realizou documentários, compôs textos para peças sinfônicas e camerísticas, participou de conselhos estaduais e federais de cultura, fundou cooperativas e fóruns de música e escreveu diversos textos sobre política cultural, música, literatura e cinema que foram publicados em jornais, revistas e sites. Também publicou três livros de poemas e atuou como editor de revistas de poesia. No momento, prepara o lançamento do livro Música Orgânica.

Sobre a Kuarup

Especializada em música brasileira de alta qualidade, o seu acervo concentra a maior coleção de Villa-Lobos em catálogo no país, além dos principais e mais importantes trabalhos de choro, música nordestina, caipira e sertaneja, MPB, samba e música instrumental em geral, com artistas como Baden Powell, Renato Teixeira, Ney Matogrosso, Wagner Tiso, Rolando Boldrin, Paulo Moura, Raphael Rabello, Geraldo Azevedo, Vital Farias, Elomar, Pena Branca & Xavantinho e Arthur Moreira Lima, entre outros.

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