Everson busca na Libertadores chance de coroar história de 10 anos
“Dez anos atrás, eu estava na última divisão do Brasileirão. Hoje, estou tendo o privilégio de disputar uma final de Libertadores”. Foi assim que um emocionado Everson celebrou a classificação sobre o River Plate.
Neste sábado (30), a partir das 17h (de Brasília), em decisão com transmissão ao vivo do Disney+, o goleiro terá a chance de dar um final mais do que feliz para uma história de 10 anos entre altos e baixos que carrega consigo.
Aliás, se os últimos 10 anos da carreira de Everson se tornassem um livro, um necessário prólogo deveria ser escrito com um capítulo sobre 2013. Afinal, o Atlético-MG, personagem principal de sua história, era campeão da CONMEBOL Libertadores. Enquanto isso, o ‘Paredão’ ainda era um mero reserva no Guaratinguetá.
Foi somente em 2014 que a sua vida começa a mudar (e é aí que a nossa história se inicia). No início daquele ano, o goleiro era contratado pelo River, do Piauí, onde ganharia rápido destaque na conquista de seu primeiro título oficial, o Campeonato Piauiense.
“Eu sempre costuma brincar com meus amigos que eu joguei no maior River do mundo. O primeiro é esse (da Argentina), o segundo é o do Piauí”, brincou o arqueiro em entrevista à ESPN após a classificação para a final da Libertadores.
O rápido destaque do goleiro fez sua vida ter uma nova mudança. Em junho de 2014, o Confiança, do Sergipe, se interessou em seu futebol e lhe contratou para a disputa (e eventual acesso) da Série D. Lá, meses depois, ele conseguiu conquistar mais um título estadual.
Em abril de 2015, inclusive, na campanha do título sergipano, o goleiro, então conhecido pela sua torcida como ‘Muralha Azulina’, passou a apresentar nova qualidade, agora com os pés. Em partida contra o Estanciano, foi dele o gol da vitória, de pênalti, por 1 a 0.
Seu destaque no clube foi tamanho que em agosto de 2015 uma nova transferência mudaria mais uma vez a sua carreira. “Subindo” para a Série B da C, o arqueiro fechou contrato de quatro anos com o Ceará.
A partir dali, Everson passaria a ter maior projeção nacional, sendo importante na conquista do Cearense em 2017, chegando a ser eleito jogador do ano e melhor goleiro da competição. No mesmo ano, conquistou o acesso para a elite nacional pela primeira vez com o Vozão.
No Brasileirão, em 2018, novamente atacou de goleiro-artilheiro. Em setembro, deixou sua marca na vitória por 2 a 1 sobre o Corinthians em belíssima cobrança de falta.
Acontece que o céu era o limite para Everson. E, em janeiro de 2019, o técnico Jorge Sampaoli pediu a sua contratação ao Santos, onde, mais uma vez, conquistaria grande projeção ao conquistar a titularidade no início do Campeonato Brasileiro e sendo vice-campeão com o Peixe.
O melhor de sua história, porém, ainda estava por vir. Em julho de 2020, depois de deixar o clube paulista pela porta dos fundos após chegar a pedir uma rescisão na Justiça do Trabalho, mudou-se para o Atlético-MG, que conseguiu fechar sua contratação por R$ 6 milhões. Agora, o arqueiro estava na casa onde suas grandes glórias estavam guardadas.
Mas nem tudo foi fácil para Everson. Em sua chegada, apesar da preferência do técnico Jorge Sampaoli por sua qualidade com os pés, a torcida ainda pedia Rafael como titular – e cobrava o recém-contratado em cada falha sofrida.
Somente no ano seguinte, em 2021, o goleiro conseguiu, enfim, dar a volta por cima. Sendo decisivo em duelo contra o Boca Juniors nas oitavas da Libertadores, quando defendeu um pênalti e converteu uma cobrança, o arqueiro passou a cair nas graças da torcida.
Naquele ano, ele seria importantíssimo nas conquistas do Campeonato Mineiro, da Copa do Brasil e, principalmente, do Brasileirão, onde foi eleito melhor goleiro no Prêmio ESPN Bola de Prata. Em agosto daquele ano, o novo ídolo atleticano ainda ganhou reconhecimento de Tite ao ser convocado pela primeira vez para a seleção brasileira.
No início de 2022, nova conquista nacional. Dessa vez, a Supercopa do Brasil contra o Flamengo, com Everson novamente sendo decisivo na disputa de pênaltis, além de mais um estadual para a conta. Acontece que as outras campanhas acabaram não sendo tão vitoriosas quanto no ano anterior.
O mesmo se repetiu em 2023. Apesar do tri no Mineiro, Everson viu o Galo decepcionar em outros torneios – e as críticas, mais uma vez, passaram a pairar sobre ele. Acontece que seu pior momento ainda estava por vir.
Em junho de 2024, depois do tetra no estadual, o experiente goleiro passou pelo pior momento de sua carreira. Tendo dificuldades para retomar a melhor forma física, o camisa 22 concedeu entrevista aos prantos após empate do Atlético contra o Fortaleza. O sacrifício, as dores e a frustração de não desempenhar com a qualidade que tinha o consumiam por dentro. Mas não a ponto de fazê-lo desistir.
“Se por acaso o treinador ou a diretoria achar que eu não estou mais ajudando, com certeza vão ser responsáveis pela minha retirada. Mas não sou de largar o bastão não, sou batalhador para c***, trabalho para caramba. Enquanto estiver forças para trabalhar, eu vou”, prometeu o camisa 22.
Naquele momento, Everson tinha constatada uma fratura em um de seus dedos que o deixaria de fora dos gramados por cerca de um mês e meio. Algo que poderia abater o arqueiro atleticano, mas na verdade o deixou ainda mais forte.
Após a classificação contra o River Plate no último dia 29 de outubro, o goleiro lembrou de tudo que passou ao longo do ano. “Essa temporada é muito especial para mim. A gente começa com um título de Campeonato Mineiro, um começo de Brasileiro conturbado. Tiveram muitas críticas ao meu trabalho, fiquei mais exposto. Aí veio a lesão”.
“Quinze minutos antes de eu machucar, o professor e eu conversamos, ele me passou confiança, e depois acabei tendo a lesão mais grave da minha carreira. Foi bom para que eu pudesse ficar em casa, me fortalecendo, e voltar no segundo semestre com essa força e valentia”, continuou Everson.
“Agora estou muito feliz pelo semestre que estou fazendo. É meu segundo jogo aqui no Monumental, o segundo que ganhei melhor em campo. Agora é trabalhar para terminar ainda melhor que hoje”.
E essa história ainda possui um final a ser escrito. Dentro dos 10 anos descritos, o capítulo decisivo ocorrerá neste sábado, novamente no Monumental, contra o Botafogo. Se as últimas linhas serão felizes para Everson, só o tempo responderá.