André Kfouri: CBF, inerte, assiste à vitória de John Textor
Ainda não há uma prova sequer. Nada além de teorias alimentadas por ferramentas tecnológicas que não se relacionam com o jogo de futebol e apenas cumprem o propósito de confundir e desinformar. Nem mesmo o Congresso Nacional, que o levou a sério – embora seja difícil concluir se isso é bom ou ruim – a ponto de investir tempo e recursos numa Comissão Parlamentar que lhe ofereceu a oportunidade de sessões secretas, tem algo substancioso para mostrar. Zero. As acusações, as leviandades e o desprezo por reputações seguem desacompanhados de qualquer evidência, mas esse barulho que você está ouvindo ao fundo são as risadas de John Textor. Ele venceu.
A cruzada do dono da SAF do Botafogo contra “a corrupção no futebol brasileiro” lhe rendeu reprimendas no âmbito esportivo e ações na Justiça movidas por quem se julgou difamado. A indústria do futebol no país ouviu, praticamente calada, um dirigente falar em jogos manipulados e citar nomes de clubes, atletas e árbitros, sem lhe cobrar pela responsabilidade de documentar o que afirmou.
O tribalismo fez sua parte, elevando ruídos e presenteando Textor com a chance de se apresentar como vítima de incompreensão, enquanto o jogo passou a ser, a cada rodada, envenenado por posturas tão danosas quanto as dele. Já eram raras as partidas que terminavam sem que jogadores, técnicos e cartolas reclamassem ostensivamente da arbitragem. Hoje são raras as reclamações que não incluem ataques diretos à honestidade de árbitros e/ou à credibilidade dos campeonatos.
Abel Ferreira, um dos mais atuantes nesta trincheira sempre que o Palmeiras não vence, declarou, no último fim de semana, não confiar “nas linhas do VAR e nem na TV, enquanto não comprarem aparelhos novos”.
Não há explicação aceitável para que os equipamentos utilizados no Brasil não sejam os mais modernos disponíveis, mas cabe notar que a posição de Abel não é apenas um clamor por mais investimento tecnológico. Ele está abertamente falando sobre perseguição ao clube que representa, da mesma forma que se deu no ano passado, quando um de seus auxiliares disse que não interessava ““ao sistema” que o Palmeiras repetisse o troféu do Campeonato Brasileiro. Lembrete aos desmemoriados: o Palmeiras repetiu.
Abel obviamente não é o único a disseminar essa classe de suspeitas que encontram eco nas massas de torcedores e colaboram para que, de maneira geral, a primeira reação a um erro de arbitragem seja classificá-lo como um ato intencional. Não existe nada mais grave do que isso para uma competição, motivo pelo qual declarações públicas dessa natureza são punidas com rigor por qualquer liga de esportes que se dê ao respeito.
A questão é que o risco moral está estabelecido desde que Textor colocou o futebol no Brasil sob desconfiança total, sem sofrer qualquer tipo de correção por parte de quem tem o dever de garantir que as pessoas acreditem no que estão vendo.
Está mais do que evidente que o objetivo de Textor era criar um ambiente de “insegurança esportiva” no Brasil, para que as acusações vazias que propaga fossem aceitas pela identificação de uma opinião pública que, a princípio, o considerava somente um mau perdedor. É o que ele conseguiu, com a adesão de seus adversários e a bênção da CBF.
Nesta quarta-feira (14), Botafogo e Palmeiras iniciam um confronto que deixará um deles abraçado ao Campeonato Brasileiro até o final da temporada. É possível prever com exatidão o que será dito pelo lado perdedor, certo de que o dano causado não lhe será cobrado de nenhuma forma.